23 agosto, 2015

Terraza

A vontade dos Terraza virem a Viseu já era longa. Não seria a primeira vez, no entanto. Há cerca de um ano, de passagem pela cidade, o duo foi apresentar a sua música a alguns bares. Mesmo assim, chegar, tocar uma canção e esperar uma reacção. Agendaram quatro concertos dessa maneira. Portanto o concerto no Hotel não seria uma novidade para Viseu, mas para os Terraza, tocar em Viseu num sítio onde uma sala enche apenas para os escutar seria novidade.

O duo chegou depois da hora de almoço para almoçar, o que fizemos rápido. Tínhamos alguns preparativos à nossa espera: som para o concerto no interior do hotel; som para a varanda; gravar alguns temas. Foi tudo isso que fizemos, com uma boa disposição tremenda o Mário e a Lúcia nunca deixavam de brincar com esta ou aquela situação, excepto para cantar. Quando cantam e tocam, os Terraza são para levar a sério. Com uma mistura incomum de fado, bossa nova, jazz e música tradicional portuguesa, o som distinto dos dois sobressaia logo nos primeiros acordes. A celeridade com que o som ficou no ponto certo não deu tempo para saborear mais esses momentos, mas não tardou a que fosse hora de gravar para o Musiquim.

O Mário parece estar sempre a ferver em ideias. Escolheu um canto apetecível dentro do hotel que seria o cenário para a primeira canção, "Gisela". Depois decidiu que não começaria sentado, viria antes da sala ao lado e só depois se juntava à Lúcia que estaria a pôr maquilhagem. A maquilhagem da Lúcia foi posta várias vezes nesse dia. Depois de "Gisela" era a vez "Lençóis", um tema calmo cujo o cenário foi o salão de refeições. Desta feita coube à Lúcia tornar mais realista o já real cenário e acrescentar duas chávenas de café à mesa. Como não havia café à vista improvisou-se com água e chocolate. Se a mistura fosse tão boa quanto a música, devia estar deliciosa.

Normalmente a aventura no Musiquim terminaria aqui, porém não íamos sequer a meio. A hora de jantar aproximava-se e nenhum de nós se coibiu de encher o estômago. Dali por um pouco os Terraza subiriam à varanda. O Mário insistiu uma última vez que era completamente seguro sentar-se na janela com a guitarra, a Lúcia disse uma última vez que nem pensar, não queria ficar sem ele. A discussão ficou-se por ali. Da varanda via-se o cruzamento a encher-se de gente. Encheu mais um pouco e estava na hora dos Terraza apresentarem duas das suas canções para as mais de sessenta pessoas que dali por uns minutos viriam encher completamente a sala. A última canção à varanda terminou da mesma maneira que a primeira no interior, uma bondosa salva de palmas. Já a última canção da noite teve direito a assobios - dos bons - aplausos infindáveis, vénias, sorrisos, autógrafos, enfim, foi uma experiência memorável.

Para explicar um pouco melhor, a Lúcia e o Mário, para lá de comporem as suas próprias canções e as interpretarem com largo talento, são actores de formação. O à vontade que a profissão lhes dá em palco faz com que entre cada canção partilhem a sua origem, mas não só. Partilham as histórias que as rodeiam, as experiências que de tão mal que correram só podem dar gargalhada, falam do gato que caiu do nono andar e sobreviveu, da experiência estranha de tocar em playback e muito mais. Entre cada história aumenta a empatia, daí que não se estranhe a ovação final por parte do público. Já por parte dos Terraza, talvez ainda embalados pelo calor do momento, disseram que aquele foi o melhor concerto que já alguma vez fizeram. Ficámos orgulhosos de poder fazer parte desse capítulo.

Da parte do Musiquim resta agradecer ao Hotel Avenida, que se tem mostrado um parceiro magnífico, e aos Terraza, por terem aceite o desafio. Ouça mais deste duo na sua página oficial.


ou no Vimeo: Gisela | Lençóis