23 maio, 2018

Marco Luz

Marco Luz quando sobe ao palco não canta, é a guitarra que faz toda a melodia. A sua formação clássica foi essencial para a destreza que demonstra com o instrumento, mas só uma sensibilidade única e vários anos de trabalho e exploração permitem que durante mais de uma hora Marco Luz esteja com a sua guitarra e tudo o resto se silencie para o escutar.

No entanto, em Viseu com o Musiquim o artista não foi encontrar um palco. Em vez disso fomos até à Rosilãs. O nome denuncia o conteúdo, uma loja de "telas e lãs, arranjos e franjas em tapetes de arraiolos, etc.". Fomos muito bem acolhidos pelo Sr. António e a hospitalidade revelou-se necessária. Se é verdade que Marco só usa um instrumento, também é verdade que à sua volta está uma panóplia larga de acessórios: uma mala com diversos pedais, uma mesa de mistura, colunas, microfones e cabos. Muitos cabos.

Nunca antes o Musiquim esperou tanto para escutar a primeira canção. Entre as ligações dos cabos testavam-se planos e conversava-se um pouco. Compraram-se bilhetes para o concerto dos irmãos Assad e aprendemos algumas coisas sobre as aplicações da lã. Um ou outro cliente, curioso com o aparato, preparava-se para começar um baile, mas efetivamente nunca chegou a haver dança. Houve música, sim, mas primeiro limaram-se as unhas. As unhas são muito importantes para um guitarrista. Ao longo dos anos já aprendi a distinguir um instrumentista mais aplicado de outro pelo brio com as suas mãos. As de Marco Luz são um bom exemplo.

E depois tocou-se? Sim, como aquecimento. O dia era de sol intermitente e estavamos todos confortáveis junto daquelas lãs. Marco Luz ensaiou alguns acordes e minutos depois estava pronto. Começou com o tema que lhe é familiar, assim como a quem o escuta há mais tempo. "Cores" é o nome do primeiro álbum e o single do mesmo, editado em 2015. Seguiu-se uma improvisação sem nome até chegarmos ao "Olival", o primeiro tema do seu segundo álbum "Mãos Pincel".

Tal como Eduardo, Mãos de Tesoura, Marco está habituado a criar arte com as suas e o resultado é hipnotizante. Podem conhecer mais do seu trabalho na página do guitarrista.


09 maio, 2018

Ellie Ford

Ellie Ford partilhou carro com os Time for T a caminho de Viseu. Para a noite estava planeado tocar algumas músicas com o grupo e abrir o concerto. Nós decidimos focar-nos no seu trabalho a solo.

A britânica tem conseguido fãs espalhados um pouco por toda a Europa, para isso têm contribuído algumas digressões, sobretudo em Inglaterra e Alemanha, já em Portugal, esta foi a sua primeira visita. Com o dia cinzento e chuvoso, quisemos abrigar-nos dos maus tratos do frio e encontrámos no Bazar Litos o refúgio perfeito. Esta loja de brinquedos habitua a Rua Direita há várias décadas e é feita da matéria dos sonhos de criança. Coberta de brinquedos, alguns deles já muito difíceis de encontrar habitualmente, é impossível não libertar um sorriso ao entrar naquele espaço e deixar que reminiscências da infância nos aqueçam o peito. Ellie sorriu, nós sorrimos também. Possivelmente pelos mesmos motivos, mas quem sabe.

Agasalhados, só havia que preparar o palco e os instrumentos. O palco não temos, basta um bom enquadramento, já instrumentos esses havia-os. A cantautora é conhecida pelos seus dotes na harpa, piano e guitarra, mas destes três só o último se traz facilmente às costas. Guitarra que seja, afinou-se durante alguns segundos, não muitos. A voz também pouco precisou para aquecer. Há quem descreva a voz de Ellie como sendo tão doce quanto mel. Talvez essas propriedades a mantenham protegida das intepéries. Mesmo nos murmúrios da canção por vir a sua voz trazia um brilho especial àquele momento. Estávamos prestes a começar. O resto conta-se em vídeo, mas nem tudo.

Depois das canções, ainda enfadados pelas cantigas e pela magia do que nos envolvia, chamou a nossa atenção um acordeão. Ora, não era nenhum acordeão profissional, era daqueles bem pequeninos, de brincar - muito coloridos-, mas que surpreendentemente soltavam várias notas a nosso comando e, tanto quanto o ouvido podia decifrar, afinadas! Trouxemo-lo connosco. Foi um presente do Musiquim que, tanto quanto sabemos, vai tendo o seu uso. Quem sabe não o escutaremos nunca canção futura. Por agora, as duas com que Ellie Ford nos deixou "My Bird Won't Sing" e "The Only One" fazem parte do seu seu álbum de estreia "The Other Sun". Mais sobre a artista na sua página oficial.


28 março, 2018

Time for T

​Foi a primeira vez que Tiago Saga, o coração dos Time for T, esteve em Viseu. A cidade não estava recetiva a visitantes e para o luso-britânico que cresceu no Algarve o frio e a chuva não foram de todo simpáticos.

No carro já velho e totalmente atulhado de instrumentos acompanhavam-no Joshua Tayler (baixista), Felipe Bastos (percussão) e Ellie Ford (sobre esta britânica falaremos noutro capítulo). Embora um bom companheiro de viagem, estacionar o automóvel foi um problema. É que o nosso convite passava por tocar na chapelaria do Sr. Pedro - também conhecida por Chapelaria Confiança - mesmo no centro da cidade, na rua Direita. Ora, os “truques algarvios” de Tiago Saga conseguiram levar o veículo até à porta da chapelaria com um ou outro olhar mais incrédulo e alguns sorrisos de quem passava. Ali, habitualmente, não se vêem automóveis, mas a verdade é que não tardou para que os instrumentos estivessem dentro da loja, protegidos da chuva, prontos a cantar.

O interior da Chapelaria Confiança é apertado e cobre-se de caixas e chapéus até ao teto. É uma casa antiga e nota-se, mas também a forma como somos recebidos, com toda a amabilidade prestada, parece de outros tempos. O Felipe Bastos, que à noite estaria a tocar bateria, ali na loja entretinha-se a encontrar alternativas aos tambores. Enquanto outros afinavam, ele percebeu que o suporte metálico dos chapéus daria um excelente instrumento. Uma caixa de cartão ali ao lado também viria a ser útil. Enquanto lá fora chovia e uma ou outra voz ameaçava chamar a polícia para não ver carros naquela rua, cá dentro, de cabelo molhado e roupa encharcada, Tiago Saga tocava os primeiros acordes. Filmámos.

A música dos Time For T é bastante característica e a forma descontraída com que a tocam revela a experiência de vários anos na estrada. Se é verdade que o seu álbum de estreia, “Hoping Something Anything” foi apresentado o ano passado, também é verdade que já estão nestas aventuras desde 2013.

C​onheçam mais do seu trabalho em: www.timefortmusic.com.